Salvador 26 de julho de 2010

Ao Theatro XVIII

Qual homem pode haver tão paciente,
Que vendo o triste estado da Bahia,
Não chore, não suspire, e não lamente? “
Gregório de Mattos _ Aos Vícios

Cá estou lançando palavras na rede por este blog, para manifestar meu extremo interesse de reavivação e fortalecimento do Theatro XVIII. Estou sendo cerceado a assistir e fruir arte e impedido de produzir teatro pelo enfraquecimento deste espaço cultural.

Sou público de teatro há mais de 20 anos, um pouco mais de tempo do que tenho exercido essa atividade profissionalmente. Como cidadão da cidade do Salvador, perco mais um motivo de ir ao Pelourinho e fico prejudicado por ter uma opção cultural a menos, que me possibilitava a preços acessíveis e serviço de primeira, o acesso a uma ótima produção artística.

Enquanto fazedor de teatro sou afetado diretamente: Tinha a estréia e temporada da encenação Sebastião prevista para o mês de agosto, quando fui surpreendido pelo cancelamento da pauta de ocupação, por conta das dificuldades que o teatro vem enfrentando. Não bastasse essa situação, agora sou abalado pela possibilidade de cancelamento de algumas atividades artísticas de oficinas e ensaios abertos gratuitos, que seriam realizados no anexo do Theatro XVIII, devido ao delicado momento que esse centro artístico vive.

Em mais de 10 anos de atividade este teatro já possibilitou que muitas encenações viessem a público. Sem contar as ações de oficinas, de debates, encontros, exposições, apresentações de dança, música que o "Dezoitão" sempre efetuou.

Sou muito grato a este centro cultural, que já me possibilitou estreiar e trazer à cena meus experimentos artísticos (nas encenações Acrobatas, Seu Bomfim, Eterno Rêtorno - ERÊ, Velôsidade Máxima 2). A estrutura, os serviços e as facilidades que o Theatro XVIII oferece são únicos, seu modelo de ocupação e operação deveria ser seguido como exemplo para instaurações de outros ambientes similares (como já é caso do teatro Gamboa Nova).

Fico muito triste de um lugar tão fértil estar passando por dificuldades tão grandes. Não sei como ser útil e como ajudá-los, mas quero ver de novo o Theatro XVIII recebendo as pessoas da cidade toda, de todas as etnias, credos, crenças, filosofias, classes sociais, idades e bairros. Quero ver o XVIII divulgando seu guia, criando mais Ed Tais, abrindo suas portas para noites sem caráter, para leituras abertas, para sessões de improvisos, incrementando e impulsionando o fazer artístico em Salvador.

XVIII mil vezes Evoé.

Fabio Vidal

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Estudo para Cenário/ Construção Sebastião preso

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Estudo para cenário I

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Imagem estudo para o cenário de Sebastião. Fevereiro/2010

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Mandar texto do Rádio para Emerson

Encomenda cena dos tiros e cena do rádio. Pássaro. Som de game over.

Estado de sobressalto: terá sido o café? 

Os textos me fugiram. Estou sem domínio. Acho que é por que estava cheio de coisas a serem mexidas.

Treinar assobio/ Ler textos iniciais antes de ir para cena/ Passei um tempo organizando a produção e me ative em desvios absurdos.

Pesquisei Smetak como possibilidade sonora. 
Pensei em modos de interferência sonora visto que irei me encontrar com Emerson Hoje
Ater-se após o almoço na cena do delegado e maturar cena da reportagem.
Levar pedaço de plástico para recolher dinheiro na cena da saída.
Passar cenas a partir do dinheiro jogado.
Tirar fotos das estatuárias da chegança.
Relaxar antes do ensaio.
Memorizar texto até a hora da correria e já ir adiante da hora.
Passar ensaio geral. Da espera atè o povo falando.
Hoje capturei fotos de partes da cena.

Revi todo o ensaio. Finalizei as anotações de elementos que precisam ser revistos na cena. Preciso ter mais calma para conduzir e pontuar mais a cena. Estou melhorando o padrão de sobressalto, mas preciso relaxar mais.

Arrumar dinheiro. Fazer lista de afazeres de Sebastião.

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Fiquei quieto, lendo e processando o texto prioritário. Meti mão no texto da euforia e desenvolvi modos de atuação para a cena da contagem de dinheiro.

Revi a filmagem e fiz as seguintes anotações:

1. Cabeça virar exageradamente. Definir mais marcas de cabeça no mijo e na cena da queda do avião. No alemão;

2. Boa marcação de ficar variando de peso entre as pernas constantemente. Característica bamba de Sebastião;

3. Treinar moeda jogada;

4. Comprar faca mais resistente;

5. Posso ficar mais tempo na cena da barata, tentar mais agonia na tirada de camisa, deixar que a barata suba pela corpo, depois de tirar a camisa ainda dar um tapa no corpo. Perseguir mais a barata;

6. Pedinte: mãos mais em concha. Fazer gama de quatro tempos para chegar ao Máximo de agudo e pedantismo;

7. Vestir camisa pelo avesso. Marcar o momento que sobe com o vestir da camisa, como era antes . Variar peso quando estiver ajoelhado. Boa a cena da conta fazer jogo da velha e terminar com o símbolo do Itaú. Marcar mais o pontuar do final;

8. Botar camisa na cara para se fazer de bandido;

9. Fazer Gama de quatro tempos depois de Jesus (desmonte);

10. Cabeça na virada para os céus – lembrar do ator pornô da virada de180°;

11. Pontuar a levantada de cabeça depois de cortar a mão. Parar, puxar o movimento pela cabeça;

12. Ponto fixo do corpo em detrimento da cabeça na jura satânica, mais rancor. Cabeça mais móvel, lidar com impulso;

13. Cortar a mão em “ – você só tem respeito se você tem dinheiro”;

14. Marcar toda a cena do pacto satânico e emendar com a cena de câmera lenta;

15. No contador, olhar mais pro publico, pontuar olhando pro lado em : “uma história meio mentira”;

16. Marcar mais momento em que o avião cai. Pontuar, pausar;

17. Limpar a volta depois que o avião cai;

18. Desafinar mais e fechar os olhos na hora que canta;

19. Investir mais na câmera lenta, principalmente quando estiver lidando com os objetos;

20. Bom retorno de sensação de mão cortada;

21. O texto da briga com os céus pode ser melhor investido. Entrar numa possibilidade de possuído;

22. Bom o trânsito da cena da reza, pensar na variação do texto da avó, começar mais cotidiano e ir mudando depois que se ajoelha;

23. Diminuir idas pros espaços, deixar perna de base realmente presa;

24. Estabelecer um ritmo mais ameno para a apresentação dos personagens pontuar cada um deles, ganhar em centramento e pontuação;

25. Colocar Neinha para fazer giros;

26. Marcar mais empurra-empurra dos personagens;

27. Manter duplo foco depois do empurra-empurra;

28. Pontuar visualidade da cena quando retorna;

29. Pontuar riso de maldade;

30. Depois de Neinha marcar o retorno;

31. Gama de chegada do povo depois da queda. Mais fluência antes do texto gerar melhor visualização;

32. Pontuar mais personagem estabelecer um ritmo mais tranqüilo. Treinar nova gestualidade de Neinha;

33. Cuidado com desmunhecagem;

34. Chamar Rex, depois que se junta;

35. Marcar os sustos criar póéticas de sustos.

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Mais um dia de ensaio matinais. Pela manhã, lapidei algumas cenas feitas ontem e avancei até o momento final do saque.

Voltei a parar nas características de Sebastião (modo de andar, queixo protuberante, braços muito vivos, retornando para a postura de braços cruzados, mão fechada, olhar para cima, perna canqueta, andar que apóia perna de um lado para outro) e gestualidade capturada de futebol (cabeceamento, drible, embaixada, matada de peito, chute).

Hoje estava coma energia cansada, mas mesmo assim, consegui manter a atenção voltada para a memorização de texto. Assisti a última filmagem de ensaio e passei todas as cenas. Constatei então que tenho 26 minutos de Sebastião levantados. Criei o hábito de todos os ensaios, passar toda a encenação para me acostumar com o fluxo.

Mas ainda estou em menos da metade da peça. Vem-me uma angústia de que o tempo é pouco. Mas continuarei trabalhando.

Preciso investir mais no jogo cênico

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Comecei a ter aulas de pilates com Maira, na Phisiopilates e sem dúvida está sendo uma pratica ótima. 
Passei um pouco o texto, limpando a cena do saque. 
Caio faz falta. 
Gabi chegou para filmar. Passei todas as cenas trabalhadas até o início do saque. 
Me senti sobressaltado. Esqueci algumas partes. Alguns textos precisam ser malhados. 
Vou dar uma pausa : almoçar, cochilar e voltar para treinar até as 18h. 
Investir no tempo antes. Olhar o público. Investir na quebra. Curtir e brincar com a cena. 
Fui interrompido durante a tarde para cuidar de uma questão de produção. Um corte abrupto no desejo.

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6 de junho

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Fiz exercícios respiratórios e alongamento, além de meditação pela manhã.

Hoje dormi um pouco mais.
Estudei texto e memorização. Trabalhei até a cena da contagem de dinheiro.
Editei a cena do saque. Inverti a ordem. Estou na busca de um ritmo para a cena, bem como procurando desenvolver as repetições que concatenam elisões (???) de cena. Tive novas idéias e pensei a poética da cena. Amanhã irei testar logo de inicio esta parte do texto.
Lidei com produção. Estou me tranqüilizando, pois voltei a organizar os meandros do projeto – com relação a datas. Tenho nove semanas para finalizar: e isso diz respeito a ter prazos para otimização das influências da equipe.
Chegou-me a constatação de que precisarei dar um gás: precisarei ensaiar 18 horas por dia nas duas próximas semanas. Acredito que será bom tomar massagens.

Para Gil

Sei que você está estancado por mim. Mas não tenho como me ater a você agora. Vou tentar progredir na cena o máximo possível. Em breve, mantenho contato inclusive para lhe explicar algumas escolhas estilísticas com relação ao texto - que justificam a sua inclusão ou corte de determinado texto. Estou sem tempo para juntar os fragmento do meu discurso agora.

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Estou há uma semana distante de Sebastião. Tive que lidar com questões burocráticas além  otimizar alguns escritos para o Blog. Isso me levou tempo.

Hoje comecei a deixar as cenas virem à tona. Tenho muito pouco tempo e estou empacado na cena do saque há quase uma semana. Ela já está por volta de 15 dias atrasadas e não consegui avançar em seu desenvolvimento.

Mas consegui finalmente retornar para a cena e para o texto.

Passei vários detalhes que foram gravados (no vídeo) durante a semana. Inclui as marcações no texto escrito, a prática gerando outros contornos ao pré-estabelecido.

Agora retorno um processo de memorizar as cenas criadas. Espero até a terça partir para a cena da euforia. Terei de diminuir o ritmo de trabalho com Gil Vicente. Preciso investir meu tempo na marcação até a hora da cena da delegacia.

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4 de junho

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Ando sem vontade de ensaiar. Nos últimos quatro dias, gerei aversão e criei uma resistência para a cena. E foi providencial, sair para alongar, correr, criar um estado de atenção mais desperto.

Entrei na sala sem saber o que fazer e fui entrando em um fluxo muito bom de trabalho pela repetição.

Repensei sobre o processo de influência coletiva que estou vivendo. Decidi não fazer o ensaio amanhã para ficar um pouco livre para tecer o trabalho que falta.

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Caio se desligou do processo. Agora sozinho preciso definir como estabelecer vínculos com um responsável pelo Blog e com um assistente de ensaio. Ver isso para amanhã.

Hoje ensaiei o dia todo das 5 horas da manha até as 19:30 horas, com parada para almoço e cochilo.
Mantenho uma prática diária há mais de duas semanas de me exercitar no Dique do Tororó. Invisto em desacelerar minha ansiedade, treino posturas de equilíbrio, além de correr: o que me faz processar muitas idéias..

Comecei na ultima semana a fazer Pilates e já penso em começar a fazer boxe. Isso fará bem a Sebastião.



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1° de junho

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Hoje ensaiei à pulso. Tem dias que é assim. Faz parte do meu lema de trabalho de ator solo: “Mesmo sem vontade e sem inspiração, permanecer no local de trabalho”. 

Tem dias que somos surpreendidos pelo acaso e suas forças para criação. Tem dias que fica tudo emperrado e nada de aproveitável acontece.

Consegui criar uma articulação de cena possível para a cena do Saque. Continuarei com o detalhamento dos momentos desta cena, retornando às estatuárias esboçadas no início da chegança para gerar reconhecimento dos personagens.

Tecnicamente dividi as ações, estudei suas continuidades e interrupções. Gerei apartes dos apartes.

E estou cada vez mais retornando as estruturas clássicas (ou batidas dos contadores - Gil odeia esses lugares comuns), mas insisto em alguns formatos por seus efeitos publico-dramaturgicos. Jogo na cena sempre com processos de reconhecimento.

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30 de maio

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Ensaio pelas manhãs – avançar o texto até o momento da queda, brincar com os acontecimentos na hora do saque, estou achando este momento frágil penso que talvez possa incrementar com alguma mise in scene.

Organizar todo o espaço durante o saque posso rearrumá-lo. Trazer uma privada.

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Alguns grupos de policiais - e muitos outros de criminosos que se fazem passar por policiais - empreenderam uma verdadeira caça ao tesouro nas casas da região, com direito a sessões de tortura contra os moradores da vila. Oficialmente, a polícia recuperou pouco mais de R$ 500 mil até hoje.
No último ano, a maioria dos vizinhos de Alumínio e Mariana - incluindo um grupo de sem-terra que se instalava em uma fazenda nas proximidades - fugiu do distrito. "Quem pegou muito dinheiro foi embora rápido e os outros foram indo depois, para não morrer", conta Mariana.
"A gente só não saiu porque nosso dinheiro foi levado e a gente não tinha aonde ir". Ela diz que sua família foi "vítima" tanto de policiais reais quanto de falsos. Na noite seguinte à queda, Alumínio foi abordado por quatro policiais - verdadeiros - ao chegar do trabalho.
Sob a mira de revólveres, foi forçado a mostrar onde havia escondido o dinheiro. O lavrador devolveu a quantia e passou 24 horas detido na delegacia. Tempo suficiente para que sua mulher fosse abordada por policiais falsos. "Mostraram as armas e disseram que iam revistar nossa casa. Como não acharam nada, resolveram me seqüestrar".
Mariana conta que só foi liberada três horas mais tarde, quando os assaltantes souberam que seu marido havia sido preso. Histórias como a da família Santos repetiram-se na região. "Aconteceu muita invasão", conta um dos poucos sem-terra instalados na área desde antes da queda, Luiz Antonio Teixeira Santana, de 33 anos.
"Os companheiros fugiram, porque os que falavam que eram da polícia chegavam, desmanchavam os barracos, batiam... Só queriam saber onde estava o dinheiro". O então administrador da fazenda onde o avião caiu, José Linaldo de Jesus Santos, de 37 anos, foi outro que abandonou o lugar com a família, dizendo-se ameaçado.
O novo administrador, João Pereira da Silva Filho, de 30, chegou à fazenda uma semana depois. "Estava tudo abandonado por aqui", conta. "O gado estava solto. O imóvel, aberto". Muitos dos destroços continuam lá, ao relento.
A insegurança e a fuga dos vizinhos levaram Mariana e Marinalva a fechar o bar - continuam apenas com a mercearia. Na janela de onde ainda vendem produtos, foi instalada uma grade nada convidativa aos clientes. Na porta de entrada da casa, outra.
O último caso rumoroso de torturas sofridas por habitantes da localidade por causa do dinheiro sumido ocorreu no fim de novembro. Vizinho de Mariana e Alumínio, o trabalhador rural Antônio Santos Filho e dois amigos foram seqüestrados por três homens que se diziam policiais.
A tortura durou quatro horas. Santos Filho chegou a ser baleado na perna. Foi o único caso solucionado pela polícia até agora. Pouco depois da ocorrência, os três acusados - o técnico em eletrônica Reinaldo Conceição de Santana, de 30 anos, o comerciante Joanito dos Santos Bastos, de 34, e um soldado da Polícia Militar, Marcos Afonso Garcez Silva, de 38, que trabalhava em um batalhão de Salvador - foram presos em flagrante.
Continuam detidos na Delegacia de Homicídios, na capital baiana. Com eles, foram apreendidos dois revólveres e uma pistola. Sem saber em quem confiar, a população registrou poucas queixas das agressões na delegacia local. Ao todo, são 13. A polícia de São Sebastião do Passé fez, até agora, duas prisões supostamente relacionadas à "caça ao tesouro": foram as dos operários Cleonilton da Silva Ribeiro, de 29 anos, e Robertson Alves dos Santos, de 28.
Trabalhadores contratados por empresas do Pólo Petroquímico de Camaçari, eles foram detidos em flagrante por porte ilegal de arma - uma pistola calibre 380 - ao perambular pelo distrito, possivelmente atrás de novas vítimas. Continuam detidos na delegacia da cidade.
O trabalhador rural teve de passar por duas cirurgias de urgência no Hospital Municipal de São Sebastião do Passé, pois tinha o risco de ter a perna amputada. Duas semanas depois de receber alta, também abandonou a localidade com a mulher, que assistiu a boa parte da tortura sem poder reagir.
Apesar de violenta, a ação não foi a que mais chocou a comunidade. Em 11 de junho, outro trabalhador rural, Jailton de Jesus dos Santos, de 26 anos - também vizinho de Alumínio - foi torturado por uma noite inteira e acabou assassinado.
Tudo o que a polícia sabe é que Santos foi abordado por quatro homens, que o levaram de sua casa em um Corsa Sedan de cor branca. Segundo a polícia, o mesmo veículo já havia sido usado em outro seqüestro, do motorista Evandro Miguês Fraga, que passou dez horas sendo torturado, também por quatro homens.T.D.


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Tribuna da Imprensa – RJ -17/03/2008 - 09:26 Centenas de pessoas se aglomeraram entre os destroços da aeronave e os quatro corpos mutilados, na tentativa de saquear

A tarde de 14 de março de 2007 começava tranqüila como qualquer outra no distrito de Maracangalha, em São Sebastião do Passé (BA), a 58 quilômetros de Salvador. Como tantos outros trabalhadores rurais da região, Antonio Silva dos Santos, o Alumínio, de 27 anos, estava a caminho da propriedade onde trabalhava, com colegas, quando viu um bimotor despencar sobre a fazenda Parque Nossa Senhora das Candeias.
O acidente, que completou um ano na sexta-feira, decretava o fim da tranqüilidade no simpático lugarejo de 5 mil habitantes cantado nos versos de Dorival Caymmi. Alumínio e os colegas foram até o local da queda. Descobriram que havia, no avião, quatro pessoas - todas mortas - e muito mais dinheiro do que eles, ganhando um salário mínimo por mês, poderiam pensar em ver em toda a vida.
Havia R$ 5,56 milhões a bordo, que estavam sendo mandados de agências bancárias do Norte baiano para Salvador. Não tardou para que a notícia de que o avião transportava uma enorme quantidade de cédulas de R$ 10 e R$ 50 se espalhasse.
Centenas de pessoas se aglomeraram entre os destroços da aeronave e os quatro corpos mutilados, na tentativa de saquear. "Muita gente saiu carregada de dinheiro", conta Alumínio. "Só fiz o que todo mundo estava fazendo". O lavrador voltou para casa sem contabilizar quanto havia "arrecadado".
Escondeu as notas da melhor forma que pôde. Diz não ter contado a "boa nova" nem à mulher - preferiu seguir, em silêncio, seu caminho de volta ao trabalho. Ao longe, viu as primeiras equipes policiais chegando ao local do acidente, atirando para cima, tentando tirar curiosos e aproveitadores do meio dos destroços.

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