Resposta a matéria Poucos na estréia de Sebastião, veiculada no Jornal A Tarde dia 30 de agosto de 2010, assinado pela Jornalista Tatiana Mendonça. Escrito por Fabio Vidal, autor, ator e encenador de Sebastião.
Por um espectador que seja na platéia, pelo respeito aos 15 cidadãos que saíram de suas casas no dia 28 de agosto e foram prestigiar a estréia de Sebastião em São Sebastião do Passé. Muito obrigado pela atenção e pelo tempo de dedicação. Poucos, mas valorosos, muito longe do adjetivo “minguado” maldosamente aplicado pela Jornalista Tatiana Mendonça na matéria do Jornal A Tarde , que quer diminuir a importância deste trabalho, julgando-o por uma ótica de comentarista de bloco de carnaval, que valoriza a muvuca.
Escrevo motivado por um tom que atravessa o texto que banalizou a apresentação de Sebastião em São Sebastião do Passé e que, de um modo claro, tende a reforçar um preconceito sobre a demanda por cultura fora do eixo da capital. Nós, da equipe de Sebastião, agradecemos e valoramos a cidade de São Sebastião do Passé, que recebeu a todos da equipe com muita atenção e carinho. Agradecemos aos poderes públicos (Secretaria de Cultura), à Casa de Cultura Maestro Manoel Gomes, aos comerciantes, artistas, estudantes, professores, enfim, ao público que foi assistir ao espetáculo nestas primeiras apresentações.
Os encontros se efetuaram com toda a intensidade, profissionalismo e respeito para as mais de duzentas pessoas que compareceram às cinco apresentações dos dias 26, 27, 28, 29 e 30 de agosto. Alcançamos estudante das escolas públicas em apresentações vespertinas, e a um público misto nas outras apresentações noturnas.
Vivemos momentos muito interessantes neste espaço. As apresentações foram boas, cada vez mais a encenaçãoSebastião sedimenta seus contornos. Foi e está sendo propiciado um espaço de uma arte compromissada com uma estética, ética, técnica e uma filosofia que se estabelece em cena.
Muitos são os assuntos e as referências abordados no espetáculo que foi gerado a partir de reportagens de jornal e de TV, (muitas destas do Jornal A Tarde). Múltiplos assuntos podem ser coligados e correlacionados. Em Sebastião se estabelece uma comunicação com a platéia, que é convidada a complementar e a desenvolver um jogo de signos, no qual elementos cômicos e trágicos se interpõem, criando esse organismo cênico que trata sobre fatos reais marcados pela violência.
Eu, que vivo este processo criativo, fico cada vez mais orgulhoso dos resultados alcançados e dos temas tratados. Cada vez mais as idéias se consubstanciam na cena. Todos os elementos ganham uma afinação maior.
Interessantíssima a experiência de apresentar para os alunos das escolas, dos quais alguns foram pela primeira vez ao teatro. Muito bom ouvir os relatos no bate-papo ao final do espetáculo e apresentar a história deles para eles. Através dessa ação foi aberta uma porta para outras apresentações do Território Sirius Teatro. Laços foram criados e novas investidas estão pensadas para serem realizadas na Casa de Cultura Manoel Gomes.
Um segundo tempo de apresentação está previsto agora no Teatro Sesi, no Rio Vermelho, em Salvador, entre 04 a 26 de setembro, um novo espaço para receber o público. Podem vir, havendo uma pessoa na platéia, haverá Sebastião, sempre será para valer. Uma pessoa só faz toda a diferença, ainda mais neste trabalhado feito por um solista. (Como se nós, gente de teatro, não fôssemos resistentes e resilientes).
Afirmo que se faz necessário pensar por outra ótica, diferente da expressa pela jornalista. Pois de um modo direto foram atingidas pessoas com um tipo de expressão que reflete sobre um assunto que as envolveu diretamente. Aqui foi possibilitado o acesso a uma expressividade artística que está comprometida para além do divertimento simples e do riso fácil.
Importante como artista é saber que chegamos a pessoas como Kátia Garcez, de São Sebastião do Passé, que nos escreve dizendo:
Assisti ao espetáculo Sebastião, ontem, na Casa da Cultura M.M.Gomes em São Sebastião do Passé. A emoção que senti ao assistir este espetáculo transcendeu os vícios comuns a nós da área teatral, quando nos colocamos no lugar do público. O programa do espetáculo não nos prepara; a nós testemunhas oculares da história da queda do avião; para o que vamos assistir. Tudo ainda é muito recente e sofrido para nós. Por isso ao acompanharmos a belíssima interpretação do ator Fábio Vidal, voltamos a sentir o medo, a omissão, a indiferença, a revolta e todos os sentimentos mesquinhos que envolveram essa história. Nos sentimos um pouco no mundo do teatro Fórum de Augusto Boal e uma vontade louca de agir no palco quando na vida real não nós foi possível. Espero que o espetáculo volte numa outra temporada. Além de toda a beleza estética, do show de interpretação, Sebastião nos dá a oportunidade de expurgar nossos medos, pois os gritos não foram suficientes: ainda são ouvidos aqui. Parabéns a toda equipe pela belíssima obra de arte.
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