Alguns grupos de policiais - e muitos outros de criminosos que se fazem passar por policiais - empreenderam uma verdadeira caça ao tesouro nas casas da região, com direito a sessões de tortura contra os moradores da vila. Oficialmente, a polícia recuperou pouco mais de R$ 500 mil até hoje.
No último ano, a maioria dos vizinhos de Alumínio e Mariana - incluindo um grupo de sem-terra que se instalava em uma fazenda nas proximidades - fugiu do distrito. "Quem pegou muito dinheiro foi embora rápido e os outros foram indo depois, para não morrer", conta Mariana.
"A gente só não saiu porque nosso dinheiro foi levado e a gente não tinha aonde ir". Ela diz que sua família foi "vítima" tanto de policiais reais quanto de falsos. Na noite seguinte à queda, Alumínio foi abordado por quatro policiais - verdadeiros - ao chegar do trabalho.
Sob a mira de revólveres, foi forçado a mostrar onde havia escondido o dinheiro. O lavrador devolveu a quantia e passou 24 horas detido na delegacia. Tempo suficiente para que sua mulher fosse abordada por policiais falsos. "Mostraram as armas e disseram que iam revistar nossa casa. Como não acharam nada, resolveram me seqüestrar".
Mariana conta que só foi liberada três horas mais tarde, quando os assaltantes souberam que seu marido havia sido preso. Histórias como a da família Santos repetiram-se na região. "Aconteceu muita invasão", conta um dos poucos sem-terra instalados na área desde antes da queda, Luiz Antonio Teixeira Santana, de 33 anos.
"Os companheiros fugiram, porque os que falavam que eram da polícia chegavam, desmanchavam os barracos, batiam... Só queriam saber onde estava o dinheiro". O então administrador da fazenda onde o avião caiu, José Linaldo de Jesus Santos, de 37 anos, foi outro que abandonou o lugar com a família, dizendo-se ameaçado.
O novo administrador, João Pereira da Silva Filho, de 30, chegou à fazenda uma semana depois. "Estava tudo abandonado por aqui", conta. "O gado estava solto. O imóvel, aberto". Muitos dos destroços continuam lá, ao relento.
A insegurança e a fuga dos vizinhos levaram Mariana e Marinalva a fechar o bar - continuam apenas com a mercearia. Na janela de onde ainda vendem produtos, foi instalada uma grade nada convidativa aos clientes. Na porta de entrada da casa, outra.
O último caso rumoroso de torturas sofridas por habitantes da localidade por causa do dinheiro sumido ocorreu no fim de novembro. Vizinho de Mariana e Alumínio, o trabalhador rural Antônio Santos Filho e dois amigos foram seqüestrados por três homens que se diziam policiais.
A tortura durou quatro horas. Santos Filho chegou a ser baleado na perna. Foi o único caso solucionado pela polícia até agora. Pouco depois da ocorrência, os três acusados - o técnico em eletrônica Reinaldo Conceição de Santana, de 30 anos, o comerciante Joanito dos Santos Bastos, de 34, e um soldado da Polícia Militar, Marcos Afonso Garcez Silva, de 38, que trabalhava em um batalhão de Salvador - foram presos em flagrante.
Continuam detidos na Delegacia de Homicídios, na capital baiana. Com eles, foram apreendidos dois revólveres e uma pistola. Sem saber em quem confiar, a população registrou poucas queixas das agressões na delegacia local. Ao todo, são 13. A polícia de São Sebastião do Passé fez, até agora, duas prisões supostamente relacionadas à "caça ao tesouro": foram as dos operários Cleonilton da Silva Ribeiro, de 29 anos, e Robertson Alves dos Santos, de 28.
Trabalhadores contratados por empresas do Pólo Petroquímico de Camaçari, eles foram detidos em flagrante por porte ilegal de arma - uma pistola calibre 380 - ao perambular pelo distrito, possivelmente atrás de novas vítimas. Continuam detidos na delegacia da cidade.
O trabalhador rural teve de passar por duas cirurgias de urgência no Hospital Municipal de São Sebastião do Passé, pois tinha o risco de ter a perna amputada. Duas semanas depois de receber alta, também abandonou a localidade com a mulher, que assistiu a boa parte da tortura sem poder reagir.
Apesar de violenta, a ação não foi a que mais chocou a comunidade. Em 11 de junho, outro trabalhador rural, Jailton de Jesus dos Santos, de 26 anos - também vizinho de Alumínio - foi torturado por uma noite inteira e acabou assassinado.
Tudo o que a polícia sabe é que Santos foi abordado por quatro homens, que o levaram de sua casa em um Corsa Sedan de cor branca. Segundo a polícia, o mesmo veículo já havia sido usado em outro seqüestro, do motorista Evandro Miguês Fraga, que passou dez horas sendo torturado, também por quatro homens.T.D.
Eita menino! Tu é porreta mesmo! Maravilhoso o blog, os vídeos e os relatos do diário. É um trabalho admirável o seu processo de criação. Tenho certeza que será um belíssimo espetáculo. Quero Ver!!!!
Parabéns!
Muita luz para Sebastião!
Beijos,
Silvana Abreu
Fábio, que delícia poder acompanhar o seu processo de trabalho, sempre tão instigante e antenado com o nosso tempo. Será um prazer partilhar um pouco dessa sua construção, ainda que com um olhar virtual, através do blog. Fica a certeza de mais um belo espetáculo e meu desejo de vir a trabalhar com você um dia. Um beijo sebastião, cheio de expectativa. João Figuer